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quinta-feira, 21 de julho de 2011

DAS ESTRADAS DE ENROLAGEM PELO BRASIL AFORA

Weber Abrahão Júnior*
advocaciaweber@gmail.com

Está em todas as folhas, apesar de parecer mais um folhetim, daqueles bem fuleiros.
Enquanto descobrimos, estarrecidos, que o “rombo” no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes foi de apenas oitenta milhões de reais e, ao mesmo tempo, respiramos aliviados porque as anunciadas paralisações de obras não atingirão a duplicação da zero-cinquenta, ficamos ainda mais apreensivos.
A privatização do público, negação da essência do republicanismo, já é assunto tão corriqueiro que nem nos afeta mais. Fundamento da ideologia e por consequência do controle social, a repetição ad infinitum – e, por que não, ad nauseam, do mais do mesmo, provoca uma sensação geral de anestesia: já não nos importamos mais... e daí? Sempre foi assim, sempre será assim...
Uma determinada interpretação da ética política pode levar às tortuosas conclusões dos indiciados e raramente condenados por lesar os interesses coletivos: “tudo é possível porque nada será punido; seu eu não fizer, alguém fará; no final das contas, apurados os meus interesses particulares, no somatório geral o benefício será coletivo.”
Mas, de toda forma, satisfeitos estamos todos, não é mesmo? A ascensão econômica dos histórica e tradicionalmente excluídos, traduzida em diversas bolsas e consumo regrado a conta-gotas das parcelas no cartão.
As classes médias felizes com a primeira viagem ao exterior graças aos programas de milhagens e que tais, chacoalhando em aviões com o maravilhoso conforto que faria corar um monge budista. E dá-lhe consumo desenfreado e inconseqüente. E vamos minando o futuro pessoal e social às custas do endividamento irresponsável e meramente consumista.
Enquanto isso – mas não na Sala de Justiça, como no desenho dos Superamigos, uma pequena corriola se empanturra às custas dos nossos recursos e interesses, fraudando, lesando e corrompendo os valores republicanos em nome do “progresso” lá deles.
Anestesia geral é isso mesmo. Nem a atuação ridícula da “selecinha” de futebol na Copa América na Argentina consegue chacoalhar essa sensação de amortecimento geral. (aliás, observaram a “combina”? Da mesma forma ocorreu na Copa do Mundo do ano passado. O Brasil é eliminado em sequência, logo depois do Brasil... é de se pensar...)
Empanturrados, obesos de consumismo. Bovinamente ruminamos a nossa histórica capacidade de achar uma zona de conforto apenas um pouquinho acima do chão, em linha de estase. Enquanto isso, avançando pelo jardim, a corriola esmaga repolhos e crisântemos.
Ocupados demais com brinquedinhos eletrônicos e comida fast food, olhamos pela janela. Identificamos essa turma, mas achamos que a janela é apenas mais uma tela de TV, flat. Aguardamos o comercial para buscar mais um saco de pipoca de microondas. Fechamos as cortinas da sala. Mas a janela permanece lá. E é impossível desligar seu conteúdo, que em breve tomará de assalto nossa casa...

*advogado militante, filho da “geração do meio”, meio chateado com mais um escândalo e mais ainda com nossa capacidade de ignorá-lo.

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