Pouca gente deve conhecer ou mesmo se lembrar de um filme de ficção científica B de meados dos anos 1970, chamado Fase IV - Destruição. Assisti no cinema e depois na Sessão Coruja. A ideia geral girava em torno de uma equipe de cientistas confinados em um laboratório no meio do deserto, que descobrem o crescimento anormal de um formigueiro.
As formigas, animadas por um pulso cósmico qualquer, ganham consciência de seu ser no mundo e partem para conquistar o mundo destruindo os seres humanos. E daí em diante, só resta aos sobreviventes aguardar pelo inevitável fim da espécie humana. Lição de moral explícita: o desequilíbrio provocado pelo homem na natureza levará um dia ao desastre antropocêntrico!
Existe um caminho do meio, como querem os budistas, como afirmavam Sócrates (o filósofo, não o irmão do Raí) e também Aristóteles? Caminho do meio: temperança, serenidade, equilíbrio, enfim.
Quando o tema é ecologia, como já abordei em artigo anterior, o fundamento jurídico desse equilíbrio em nosso país é a Constituição Federal em seu artigo 225, caput: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Está explícito no texto. Meio ambiente ecologicamente equilibrado! E aí temos um confronto entre duas concepções muito distintas do ser do homem no mundo: o antropocentrismo e o ecocentrismo. O antropocentrismo traduz a visão de mundo filtrada pelos desejos e necessidades humanas, balizados no preceito do filósofo de Protágoras de Abdera (“O homem é a medida de todas as coisas. Das que são enquanto são, e das que não são enquanto não são”).
O ecocentrismo, por outro lado, pressupõe o deslocamento do eixo das preocupações para o cuidado sistêmico com o planeta Terra, a medida do mundo é ele mesmo, e não os caprichos humanos.
De toda forma, percepção e consciência, articuladas de forma sistemática, duradoura e contínua são, até onde sabemos privilégios dos seres humanos e entendidos como cultura pelo pensamento antropológico.
E assim devemos recorrer à essa capacidade intrínseca que todos temos para raciocinar e portanto discernir, escolhendo o caminho do meio, o caminho do equilíbrio.
Desse modo, poderemos fugir aos equívocos cometidos e incitados por ecochatos e, mais grave ainda, os ecoterroristas, que deliberadamente confundem as origens libertárias da defesa do meio ambiente com a erradicação da democracia política.
Segundo nos informa a Agência Envolverde, em seu editorial de 18 de setembro último, o cientista inglês James Lovelock propôs medidas radicais e autoritárias para as mudanças climáticas sob a alegação de que a democracia não possibilita a adoção de políticas efetivas para fazer face ao problema: “eu tenho a sensação de que as mudanças climáticas são um evento tão grave quanto uma guerra; talvez seja necessário suspender a democracia por algum tempo”, afirmou.
“Por ter sido o primeiro cientista a detectar as origens dos problemas relacionados à camada de ozônio, as palavras de Lovelock tiveram maior peso específico do que a imprensa quis perceber, ainda que exista um sentimento geral de que o progressivo esgotamento de recursos naturais e as mudanças climáticas resultarão em tensões sociais nacionais e internacionais e, para ser otimista, em algum grau de violência.”
Ainda recentemente, um “filósofo do meio ambiente” finlandês, Penti Linkolla, até recentemente desconhecido fora de seu país, propõe o estabelecimento de um regime autoritário para suprimir o consumo de maneira implacável: “uma catástrofe está acontecendo e a solução é a disciplina, a proibição (do consumo), a imposição de regras severas e a opressão”.
E não hesita em avançar em direção ao eco-fascismo: “a única chama de esperança é o governo centralizado e o controle estrito dos cidadãos”. Quem sabe com ele próprio na posição de ditador ambiental?
O tal “filósofo” tem ainda um programa político que estabelece: “um ponto final na liberdade para ter filhos, abolição total dos combustíveis fósseis, revogação de todos os acordos de livre comércio, proibição do tráfego aéreo, demolição dos subúrbios das cidades e reflorestamento das áreas de estacionamento de veículos”.
Os responsáveis, segundo critérios dele, pelas catástrofes ambientais atuais, ou seja todos os que incrementam o desenvolvimento econômico, deveriam ser enviados para campos de concentração e reeducação, bem longe, lá nas montanhas. Provavelmente vigiados por formigas guerreiras armadas até os dentes...